Porto Cuiabá

O ESPAÇO URBANO, O RIO, CONFORMANDO UM ELEMENTO INTEGRANTE DA PAISAGEM

 

Os cursos d’água, rios, córregos, riachos, na história das civilizações, integravam sítios atraentes para assentamentos de curta ou longa permanência e eram tidos como marcos ou referenciais territoriais. Na história da consolidação do território mato-grossense, o Rio Cuiabá, não diferente, sempre foi protagonista. Este afluente foi a principal via de acesso para o centro-sul brasileiro e, consequentemente, o principal responsável pela conformação do oeste brasileiro; já que a existência da rota fluvial permitiu a chegada dos bandeirantes à região.

PANORAMA EVOLUÇÃO URBANA CULTURAL

PANORAMA EVOLUÇÃO URBANA CULTURAL

O rio permeia as manifestações culturais, entre outros, da mitologia, da história, da literatura, da música, da religião, da filosofia, da pintura, da escultura e do cinema. Porém, apresentam propriedades outras, como demarcadores de território, produtores de alimentos, corredores de fauna e flora, geradores de energia, espaços livres públicos de convívio e lazer, marcos referenciais de caráter turístico e elementos determinantes de feições geomorfológicas.

A evolução da urbanização foi conseguindo eclipsá-los e anular sua importância, restringindo sua presença quase apenas aos sintomas pertubadores, ou seja: mau-cheiro, obstáculo à circulação e em alguns casos até ameaça de inundações. Cuiabá e Várzea Grande, através das políticas de descentralização espacial, foram crescendo para além do Rio Cuiabá, renegando esta espacialidade nos dias atuais a uma área de comércio precário, becos, ruas e construções que estão se deterioriando . Enquanto a Avenida Beira Rio, às margens do Rio Cuiabá, é percorrida a visualização do rio é obstruída.

 

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PANORAMA SITUAÇÃO ATUAL DA ORLA DO RIO CUIABÁ

PANORAMA SITUAÇÃO ATUAL DA ORLA DO RIO CUIABÁ

 

COMO RECONECTAR O RIO À PAISAGEM E À VIDA URBANA DENTRO DOS PARÂMETROS DE QUALIDADE AMBIENTAL?

 

COMO PLANEJAR A PAISAGEM, EM SEU PROCESSO DINÂMICO, REPENSANDO A NATUREZA DENTRO DO MEIO URBANO CONSOLIDADO?

 

COMO TORNAR UMA ÁREA DETERIORADA EM EQUIPAMENTO DE LAZER, RELACIONANDO-A A SUA MATRIZ GERADORA, O RIO CUIABÁ?

 

MINHA INTENÇÃO PROJETUAL É RESGATAR A IMPORTÂNCIA CULTURAL DO RIO CUIABÁ, ATRAVÉS DE UM PROJETO QUE BUSQUE RECONECTAR O RIO COM A CIDADE, DE FORMA A TORNÁ-LO PARTE INTEGRANTE DA PAISAGEM URBANA.

 

MAPA DE ESTRATÉGIA

MAPA DE ESTRATÉGIA

 

O rio precisa voltar a se incorporar na vida dos cuiabanos e, para isso, a única alternativa é reconstituí-lo como espaço de lazer. O objetivo principal do projeto é resgatar, além da função ecológica do rio, sua identidade em relação à cidade; melhorar o acesso da população ao rio, a segurança e a saúde pública; tornar o rio um foco de atividades: lugar acessível, seguro, saudável, verde e de celebração; promover o sentido de cidadania e a vitalidade urbana à beira-rio.

A consciência por parte da população da dependência e da finitude dos recursos naturais, como a água, por exemplo, é um fator relevante de valorização e envolvimento, no sentido da preservação, conservação ou recuperação, no caso, dos cursos d’água e dos mananciais de abastecimento urbano.

Criar um sistema contínuo e interligado de parques, unidos por trilhas e pistas de caminhada/ciclovia nas margens do Rio Cuiabá, que tenham pontos de contato com a água, que permitam interação com o rio, pode ajudar a despertar essa consciência.

A vegetação presente ao longo dos cursos d’água recebe o nome de floresta ou mata ciliar, floresta galeria, mata beiradeira, mata de beira-rio ou mata ripária, e se constitui em fator essencial para a sua condição de equilíbrio, e também como fator de atração para o lazer e turismo, pelos aspectos de acolhimento, provendo sombra e valor estético. Como habitat da fauna e flora, as matas ripárias são consideradas ecossistemas muito ricos pela diversidade de espécieis que abrigam. O papel das matas ciliares como filtros que concorrem para preservação da qualidade das águas, retendo os sedimentos e nutrientes que escoam em direção aos rios é fundamental.

Visando, então, que toda a mata ciliar fosse preservada e conseguisse coexistir harmonicamente com os parques a serem implantados, as maiores áreas de lazer foram projetadas sobre passarelas de pedestres que se conectam à cidade através de espaços vazios a beira-rio, identificados através de uma análise territorial. Seriam, então, implantadas quatro passarelas de pedestres (denominadas aqui conexões-parque), distribuidas ao longo do rio através de seus raios de ação (2-3 km) para que toda a orla do Rio Cuiabá tivesse cobertura. Essas “conexões-parque”estariam interligadas por uma pista de caminhada/ciclovia que aconteceria em dois níveis: junto ao rio e juto pista de rolamento. Além disso, seriam distribuídas pela orla pontos de contato com o rio (decks, piers e “jetts” por exemplo), num intervalo de 800 em 800 metros, que permitiriam descanso, interatividade com a água e mudança de nível da pista de caminhada/ciclovia. 

As “conexões-parque” sempre teriam um equipamento urbano que estimularia novos usos e permanências, ativando o espaço público e criando um ambiente mais dinâmico. A primeira delas, que levo neste trabalho como caso de estudo, seria implantada próxima a Ponte Júlio Müller, mais conhecida por Ponte Velha, ponto vital e estratégico entre as cidades de Cuiabá e Várzea Grande, como verificado nas análises territoriais,  e importante historicamente e culturalmente, por ser o ponto onde inicou-se o processo de urbanização de ambas as cidades.

Neste local,  o equipamento urbano seria um aquário de água doce, uma biblioteca especializada e um pequeno auditório (que atendessem às necessidades dos visitantes e servissem de apoio às atividades do aquário), um restaurante (peixaria), um café e um local para aluguel de bicicletas. Toda a arquitetura que abrigaria esse programa surgiria do desmembramento da ponte e da brincadeira com os níveis dos espaços de contato da ponte com as cidades. O gabarito fica, assim, em equilíbrio com o do entorno, para que a arquitetura não obstruia a paisagem, mas sim, torne-se parte dela, garantindo mirantes para o rio e mais espaços de encontro e área verde.

Toda a pavimentação da ponte, estendendo-seàs pistas de caminhada e ciclovia, remete às escamas de peixe, que além de demarcaremo acesso ao edifício pela mudança de coloração, geram o mobiliário, os tanques externos de aquário e as áreas molhadas.

O aquário fica localizado no subsolo,  mas,  através de aberturas, as pessoas que estão na praça poderão observar trechos da exposição. Essa pequena revelação provocará curiosidade e trará mais pessoas para o aquário. Após percorrer toda a exposição, o visitante é convidado a continuar o percuso até a beira-rio, onde uma caixa de vidro permitirá a visualização do “aquário real”, o próprio rio. Isso, funcionará como termômetrodas condições do mesmo: os cidadões controlarão a situação que o Rio Cuiabá se encontra e, mais envolvidos com a situação, poderão cobrar por atitudes em relação à ele.